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Foto: https://republicanos10.org.br

 

CLÁUDIO PORTELA
(  BRASIL – CEARÁ  )

 

BABEL Poética.  Ano I  no. 1 –Tradução e Crítica.   Novembro/De2020.    Belo Horizonte – Minas Gerais.  64 p. 
ISSN 1518-4005.  Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 


BINGO!

Parei a leitura de Crime e Castigo
e fui caçar níqueis
bem que gostaria de me caçar
mas fui à esquina jogar
caçar níqueis
até agora, hoje, gastei o salário de um semestre.

O que poderia fazer com esse dinheiro?
Comprar um dicionário de espanhol?
Tirar cópias de minha vanguarda?
Ir ao dentista?
Comprar um xampu? Uma escova de dente?
O que eu poderia fazer comigo,
senão um poema?
O que eu poderia fazer sem essa máquina,
senão lotá-la de níqueis?
O que eu poderia fazer por Kasparov,
se ele perdeu para um computador?
E eu, para uma máquina que se liga
numa tomada, que se dar umas porradas
que se translada de um lado ao outro do bar.

Esse poema épico, essa história de vida,
esse vício latente, essa corrente que me prende,
à vontade de me matar,
o desejo de esgotar essa máquina,
o desejo de caçar níquel por níquel,
esse épico vale menos que...

O Mundo gira com a palavra CASSINO.
O Mundo gira feito o CASSINO eletrônicol.



TOMO UMA POSIÇÃO

Quanto mais perco mais me fascino.
Seu toque de metal me desnorteia.
Perco o norte.
Perco o sentido do espaço.
Voou, mas eternamente volto.
E a percepção me trai,
o que era luz é sombra,
o que era peso argentino é dólar.

Mudo de lugar, uso todos os computadores do
salão.
Ganho com um cartão, perco com um milhão.
Conheço as atendentes, conheço os jogadores
e eles a mim e me olham com os olhos cúmplices.

Jogo e ganho, quero continuar ganhando
e falho.
Tomo uma posição:
sento para jogar.

 

DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA.         ANO XX – No. 30.  Editor Bilharino.   Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000.  200 p.   No. 10 787      Uberaba, MG – Brasil. Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p.                   Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

       
CHOQUE DE CHUVEIRO-ELÉTRICO

Não consigo ter certeza se quando digo:
algo pron. Indef. 1. Alguma coisa.
Estou sendo claro ou esse
algo está sendo entendido
por.
Adu 2. Um tanto, um pouco.
E vice-versa.
As palavras não me dão paz.
Digo-as na frente de todos,
dos falsos, dos verdadeiros.
Desnudo-me delas e entro d´baixo do chuveiro-elétrico,
sem nenhuma certeza de que o que falo
é realmente o que deveria falar na hora certa.
Ou se a hora certa e o falar não.
A impressão que tenho — já que nunca se ter certeza
de algo —
é que há algo a dizer.

 

*

Página ampliada e republicada em abril de 2024.

 

*

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/bahia/bahia.html

 

Página publicada em fevereiro de 2024

 


 

 

 
 
 
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